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ATPS defende dissertação de mestrado na Enap sobre comunicação pública e gestão do Bolsa Família
Comunicação é coisa séria. Foi partindo dessa premissa que, na última quarta-feira (24/04), a Analista de Políticas Sociais Maria Carolina Prado Lage, defendeu a dissertação de mestrado intitulada “Do Bolsa Família ao Bolsa Família: uma avaliação dos tropeços e dos acertos comunicacionais do Governo Federal com a gestão descentralizada dos programas de transferência de renda no Brasil durante a pandemia”.
A pesquisa está vinculada ao Programa de Mestrado Profissional em Avaliação e Monitoramento de Políticas Públicas da Escola Nacional de Administração Pública (Enap) e teve como objetivo avaliar a qualidade dos conteúdos e das ferramentas de comunicação para programas de transferência de renda do Governo Federal a partir da percepção dos gestores locais, consumidores dos conteúdos e receptores das mensagens.
“Apesar do título, o estudo aborda o período entre o “antigo” e o “novo Bolsa Família”, ou seja, as transições entre programas que ocorreram entre 2020 e 2022 – as 3 fases do Auxílio Emergencial e o Auxílio Brasil, sem incluir o PBF. O objetivo não é avaliar nenhuma dessas políticas especificamente nos seus desenhos, mas compreender as lacunas comunicacionais e a natureza dos ruídos que ocorreram nesse período de mudanças intensas e necessidades de gerir crises para buscar soluções de aprimoramento dos fluxos de interação”, explica Maria Carolina.
O estudo também captura os anseios e as necessidades comunicacionais desses servidores e analisa em que medida a qualidade da comunicação, somada aos aspectos mais subjetivos deles, ligados a crenças e valores, afetam a discricionariedade, a compreensão e o conhecimento que eles possuem do Programa Bolsa Família.
A avaliação foi realizada através de um questionário aplicado por 45 dias, entre 17 de novembro a 31 de dezembro de 2022. Os participantes foram prospectados através de convites ao público-alvo da pesquisa – gestores e coordenadores municipais e estaduais dos 5.560 municípios brasileiros – por e-mail, WhatsApp e divulgação no então Informe Auxílio e Cadastro, que é um boletim técnico semanal voltado aos gestores contendo informações operacionais sobre o programa para apoiar o dia a dia laboral e de atendimento deles. Os endereços de e-mail foram fornecidos pelos próprios participantes, inscritos no mailing.
A pesquisa obteve 1.084 respostas completas e válidas, que vieram de 996 municípios diferentes de todos os estados brasileiros – 76% de municípios de pequeno porte I e II – até 50 mil habitantes. Foram analisadas, ao todo, 112.893 células de dados – 1.502 células de respostas abertas e 111.391 campos de dados quantitativos/fechados.
“Acredito que o maior mérito desse estudo foi conseguir organizar as reclamações dos gestores municipais sobre a comunicação, até então difusas, e sistematizar recomendações para aperfeiçoar a comunicação do Programa Bolsa Família com a gestão descentralizada, no sentido de torná-la institucionalizada, mais humanizada e alinhada às necessidades dos cidadãos”, destacou a ATPS.
A pesquisa lança luz sobre a necessidade de se construir uma comunicação pública estratégica e integradora das dimensões que envolvem o processo de Comunicação Pública – governamental, participativa, política e científica. Uma Comunicação Pública eficiente deve envolver uma cultura de valorização da pauta comunicacional, com planejamento estratégico, orçamento, representatividade de servidores efetivos em posições estratégicas, criação de um observatório de comunicação, constituição de uma equipe dedicada exclusivamente ao monitoramento e avaliação comunicacional, divulgação ampla dos resultados aos líderes e tomadores de decisão e inclusão dos resultados no balanço anual de entregas dos ministérios. Além disso, precisa alinhar inovações tecnológicas a fluxos humanizados tradicionais.
Maria Carolina é socióloga e especialista em Gestão da Comunicação, e trabalhou por nove anos na Secretaria Nacional de Renda de Cidadania (Senarc), sete deles como assessora de comunicação.
A pesquisa está em fase de revisão e ajustes da banca e em breve será disponibilizada.