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Censo da população indígena valoriza identidade e orienta políticas públicas

O Censo Demográfico 2023 revelou nesta semana que a população indígena no Brasil é de 1,7 milhão de pessoas. Esse número representa uma ampliação de 88,8% em relação ao Censo anterior, de 2010. O aumento não se explica apenas por fatores demográficos, mas por uma mudança na metodologia usada e pelo resgate da identidade dos povos indígenas.

Segundo o IBGE, os dados, nesse aspecto, não são comparáveis, uma vez que houve um refinamento da metodologia, com mudança na aplicação dos questionários. Além disso, reconhece-se uma possível subenumeração para a contagem da população indígena no último censo.

As principais alterações na metodologia – que contou com o conhecimento e a colaboração de indígenas e entidades indigenistas – ampliaram a pesquisa para mais localidades indígenas e estimularam a autodeclaração, dentro e fora de Terras Indígenas.

Em 2022, o Censo encontrou mais Terras Indígenas do que em 2010 e passou a fazer uma pergunta a mais para as pessoas entrevistadas em certas localidades. A identificação de indígenas no Censo normalmente acontece quando alguém responde “indígena” à pergunta “qual é sua cor?”. No entanto, o IBGE notou que muitas pessoas com ascendência indígena respondiam que sua cor é “parda”. Por isso, em 2022, os recenseadores passaram a fazer a pergunta “você se considera indígena?” à lista de perguntas em locais que não são oficialmente Terras Indígenas, mas onde se sabe que há presença de povos originários.

Em coletiva de imprensa em Belém, cidade que sediou a Cúpula da Amazônia nesta semana, a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, comentou os resultados.

“As pessoas da cidade também se identificaram como indígenas. Muitas pessoas se distanciaram e buscam esse resgate. É um momento que as pessoas estão à vontade para dizer que são indígenas, sendo que teve momentos em que tiveram que negar sua identidade para não morrer”, afirmou Sônia Guajajara.

Os resultados do Censo 2023 demonstram, ainda, como ele contribui para o reconhecimento e a valorização da identidade e da cultura indígena, que são parte integrante da história e da sociedade brasileira. Ao revelar a diversidade e a riqueza dos povos indígenas, o censo estimula o respeito e a convivência entre os diferentes grupos étnicos e raciais.

Os dados do Censo são fundamentais para o planejamento e a implementação de políticas públicas voltadas para os indígenas. Dados mais detalhados serão divulgados pelo IBGE proximamente e, assim, será possível conhecer o retrato atualizado da população indígena, com as características sociodemográficas, econômicas e culturais dos indígenas, bem como as condições de moradia, acesso a serviços e renda das famílias.

O Censo também vai apontar os desafios que as políticas públicas enfrentam para garantir os direitos e as necessidades dos indígenas. Entre eles, estão a demarcação e a proteção das Terras Indígenas, a conservação do meio ambiente, o combate ao racismo e à violência, a promoção da saúde integral e diferenciada, o respeito à diversidade linguística e cultural, e a participação dos indígenas nas decisões que os afetam.

A imagem que ilustra o texto faz parte do 1º Prêmio Fotográfico Censo Demográfico 2022.